Observação de início: Para continuar dando notícia no assunto de NNPP (leia antes que a Wikipedia apague), que vi no blog do Luis Abreu, que por sua vez viu no blog do Jay Fields, com o qual eu também concordo.
O assunto trata de NNPPs, ou programadores de produção líquida negativa, que são programadores que mais atrapalham do que ajudam.
O Jay Fields questiona porque na maior parte das áreas um mau profissional é expurgado e porque em engenharia de software ele continua trabalhando. Questiona porque bons programadores não se recusam a trabalhar com maus programadores. E questiona também porque as pessoas são promovidas tão rapidamente em programação (em três anos o cara já é "arquiteto"), enquanto que em direito, por exemplo, um profissional leva muitos anos para atingir um mínimo grau de senioridade.
Eu tenho somente uma resposta para isso. E até por isso peço a contribuição de vocês. Sempre que alguém comenta esses problemas comigo eu digo: a culpa é do mercado de trabalho.
Afinal, em que outra profissão o profissional passa de júnior a sênior em um ano e meio? Em que outra profissão o empregador implora para o empregado não ir embora? Em que outra profissão o salário sobe ano após ano a um ritmo que é o dobro da inflação? Em que outra profissão você vê tantos profissionais com 21 anos de idade ganhando cinco mil reais por mês? Em que outra profissão o profissional troca de emprego por um real a hora a mais, e o faz algumas vezes no ano? Em que outra pofissão o profissional é promovido com base nos pulos que ele foi dando no mercado, e a cada pulo ele pegava uma posição melhor? Em que outra profissão você se reemprega em uma semana? Não há. É só em desenvolvimento de software.
Não que eu ache que isso é 100% ruim. Certamente é melhor que a alternativa, que é colocar na mão das empresas todo o poder. É o que acontece em tantas áreas, onde o "chefe" manda, e todo mundo morre de medo de ser mandado embora, e pedir aumento é pior que xingar a mãe. Mas eu acho que está na hora de um equilíbrio.
O desequilibrio do mercado de trabalho, devido à falta de profissionais, está deixando muita gente preguiçosa, e muitos estão se tornando NNPPs. Eu já vi muitos casos de programadores que na entrevista sabiam de tudo, e na hora de mostrar trabalho não sabiam de nada. Que fizeram o trabalho tão mal feito que tudo teve que ser refeito, e o que não foi refeito ficou como um câncer no aplicativo, que ninguém queria por a mão.
E realmente alguns NNPPs ganham notoriedade nas empresas. Já vi muito profissional que, por conhecer bem o negócio e ter uma bela lábia (o Brasil é o país da lábia), é tomado por um programador de produção positiva, mas na prática é um NNPP. Já vi uns NNPPs também admirados no mercado, apesar de ser bem mais raro. Em qualquer dos casos, NNPPs com influência têm um potencial de causar dano muito acima do potencial de um NNPP comum.
Essa crise mundial vai por muito NNPP na rua, mas não acho que vai secar o mercado a ponto de equilibrá-lo. Hoje há consultorias que estimam o mercado brasileiro deficientes em 30 mil posições. Outras estimam em 70 mil. Será que a crise vai enxugar 70 mil vagas?
O Jay Fields lembrou, vou lembrar também: não confunda um NNPP com alguém que está entrando no mercado, com vontade de aprender. Ou alguém que está no mercado e está evoluindo. O NNPP não tem a menor vontade de buscar melhorar, buscar padrões e estudo.
E você, conhece um NNPP? Já teve que faxinar as lambanças de um NNPP?
Giovanni Bassi
Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.