Recentemente, tenho participado de discussões envolvendo metodologias de gerenciamento de projetos e muito frequentemente a discussão acaba tomando o rumo das comparações, principalmente entre metodologias ágeis e metodologias tradicionais, ou sendo mais direto, comparando Scrum e PMBOK.
Como eu conheço apenas um dos lados, já que os únicos contatos que tive com o PMBOK foram através de gerentes PMPs, resolvi comprar um PMBOK para dar uma olhada e formar uma opinião mais realista sobre o assunto, ainda não recebi o livro, mas já comecei a dar uma lida nas Áreas de Conhecimento do PMBOK na internet e vi que temos algumas que não são cobertas pelo Scrum, por exemplo, o Gerenciamento de Custo.
Se formos olhar a definição do Framework Scrum na Scrum Alliance, realmente não encontraremos nada relacionado a Gerenciamento de Custo, então podemos afirmar que o Scrum não cuida desta prática formalmente, porém vamos analisar outros pontos:
Vamos assumir que um projeto possa ter custos indiretos, tais como aluguel, energia e computadores e também custos diretos, como despesas com viagens, hotel, taxi, refeições, telefone, salários dos colaboradores, etc. Vamos assumir também que o aumento descontrolado destes custos afeta consideravelmente a saúde do projeto e vamos assumir ainda que a empresa tenha uma área financeira / contábil que cuide de todas as receitas e despesas e que saiba, por exemplo, por quanto o projeto foi vendido, qual é o custo que o time está gerando para desenvolvê-lo e também tenha conhecimento sobre o percentual de rentabilidade que a empresa espera deste projeto.
Se em algum momento a área financeira perceber que a meta de lucratividade está sendo afetada, ela vai levantar a bola para alguém e no caso de projetos Scrum, provavelmente será para o Scrum Master. E o Scrum Master como um bom facilitador vai tentar negociar com o time para chegarem a uma solução.
Neste ponto a brincadeira começa a ficar interessante: o Scrum Master joga o problema na mesa e diz “Time, precisamos gastar menos! O que vocês sugerem?”. Se tivermos um time verdadeiramente Scrum várias sugestões devem surgir, como por exemplo, “Podemos parar de fazer hora extra”, “Podemos diminuir o número de viagens do PO ao cliente”, “Podemos reduzir nossos salários 🙂” e por aí vai. Porém alguém pode dizer também “É verdade, podemos fazer tudo isso, porém nós nos comprometemos a aumentar a velocidade do time trabalhando mais horas por dia para atingir a meta, e se não fizermos isso não vamos cumprir a meta do projeto”.
Pronto, temos um conflito, o como dizemos no Scrum, temos um impedimento, onde a área financeira quer diminuir o custo do projeto para manter o % de lucratividade exigida pela empresa e essa decisão pode afetar a entrega do projeto. E como todos sabem, impedimento é um trabalho para o Scrum Master, ou seja, é de responsabilidade dele discutir com os executivos, falar com o setor financeiro, com o time e encontrar uma solução que mantenha tanto a saúde financeira da empresa quanto a saúde do projeto equilibrados.
Diante disso, podemos dizer que sim, existe Gestão de Custo no Scrum, mesmo que de forma indireta e que o Scrum Master é o responsável por essa área de conhecimento no processo.
Abraços
André Dias
André Dias
André Dias é sócio-fundador da Lambda3, Visual Studio ALM Ranger & MVP e Professional Scrum Developer Trainer pela Scrum.Org. É graduado em Ciência da Computação pela Unip, atua na área de desenvolvimento de softwares a mais de 13 anos e nos últimos anos tem se dedicado as práticas de ALM (Application Lifecycle Management) e de Agilidade. Foi consultor de ALM da Microsoft Brasil, morou na Irlanda onde trabalhou em projetos para o governo Irlandês. No Brasil atuou em dezenas de projetos, muitos deles para o governo e para grandes instituições financeiras. Tem participação ativa na comunidade através da realização de palestras, organização de eventos, seu blog e seu twitter em @AndreDiasBR