(Esse é off-topic, fiquem à vontade para pular.)
Esse é um breve relato de como entrei no sedentarismo, e como vejo ele relacionado a TI.
Fiquei 7 anos sem mover um músculo além daqueles que garantiam minha sobrevivência. Eu não moro na selva, e não preciso caçar para comer (não considero procurar produtos no supermecado caçar). Isso significa andar o mínimo necessário, ou seja, da porta até o elevador, do elevador até o carro, dos lugares até os restaurantes, e voltar. Por 7 anos eu não corri, não nadei, não fiz musculação, e não subi escadas, senão obrigado.
Para mim coincidiu com um momento em que a demanda profissional estava muito alta. No começo, como estava com vinte e alguns anos, tudo bem. De repente tudo mudou, engordei 10 quilos em um ano, e um quilo após cada ano. Ganhei 16 quilos ao longo deste período. Praticamente todos na barriga (pelo menos parecia). Mudou totalmente minha constituição física, sempre fui magro, em pouco tempo estava totalmente diferente. Meu médico me garantiu que o padrão seguiria nos próximos anos.
Desses 7 anos, namorei cinco com a mesma mulher, e nada como uma mulher legal do seu lado para te dar a confiança necessária de que você está lindo, mesmo o espelho te desdizendo descaradamente. Até tinha planos para levantar da cadeira, mas a correria da minha vida e da dela nos desencorajavam. Quando um podia, o outro não. Resumindo: não íamos, nem ela, nem eu.
Nesse período eu comia desesperadamente. Eu entendo que comer é um dos maiores prazeres da vida, e não ia me desfazer dele. Não ligava que estava engordando. Até me orgulhava um pouco, parecia que meu sedentarismo era resultado do tempo gasto estudando. Enquanto a mente engordava, o corpo acompanhava.
Aí terminou o namoro, e a decisão de levantar ou não da cadeira passou a depender só de mim. Não tinha mais desculpa. Além disso, agora era só o espelho dizendo o que eu não queria ouvir, e ninguém mais contradizendo-o.
Analisei minhas opções. Continuava a engordar, seguia num padrão que sabia que não faria bem para minha saúde, e em poucos anos, na metade entre os 30 e os 40, estaria bem redondo, além de pouco atraente, e agora isso era um problema, já que tinha ficado solteiro. Não haviam opções.
Mas e o tempo? Ao ficar solteiro, ganhei um pouco deste valioso recurso. Na verdade, fazendo as contas, mesmo indo à academia, ia sobrar tempo. À academia então.
Foi duro. Recomeçar a fazer exercício com 30 anos, depois de 7 anos parado foi difícil. Eu, que corria 4 quilometros por dia, e nadava de 4 a 6, todos os dias, por 4 anos até os 18 anos, e depois seguia em outras atividades, não conseguia caminhar por meia hora, correr 5 minutos, fazer sequer 20 abdominais. Era ridículo.
Mas eu sou teimoso determinado, vocês sabem. Me mantive firme. O corpo se acostumou à caminhada quase diária de 1 hora na esteira da academia do meu prédio em menos de um mês. Era importante que fosse fácil ir e voltar da academia, pra não ter desculpa, daí a opção pela academia do prédio. Apesar de não ser a mais provida de recursos, não tinha desculpas como falta de tempo, trânsito, etc. Eu estava determinado a ir sempre que tivesse oportunidade, sem stress. Se eu tinha tempo para ir, eu ia. Se não, não ia, e não me preocupava. Nesse ritmo eu ia umas 4 ou 5 vezes por semana.
Segurei um pouco a alimentação. Diminui a quantidade de comida no almoço, e deixei o jantar mais leve.
Resultado: em 6 meses perdi 12 quilos. Depois dos primeiros 8 quilos diminui o tempo de esteira, e passei a fazer musculação. Agora é só musculação com um leve aquecimento. Fico de 40 minutos a 1 hora. Nunca passou de uma hora, é meu limite.
Hoje não engordo mais. Me sinto mais disposto, posso trabalhar até mais tarde, dormir menos, e aguento melhor a noite, seja estudando seja saindo. Posso comer à vontade! Hoje em dia vou de 3 a 4 vezes na academia por semana, mas se não posso ir por 10 dias por causa de algum compromisso, como o PDC, não me preocupo. Sei que vou voltar em seguida, e me manter em forma. Engordo só um pouquinho nessas oportunidades, mesmo comendo muito, o corpo está com o metabolismo mais acelerado.
Passo o meu tempo na academia ouvindo música, podcasts e rádio. Principalmente podcasts. Antes da academia não ouvia nenhum dos podcasts mencionados na minha página de podcasts, porque não tinha tempo de ouvi-los. Aprendi muito com as discussões que ouvi neles, são um recurso valioso. Não conseguiria aguentar o tédio da academia sem ouvir nada, minha mente ia me torturar, ela não para, precisa de algo para se ocupar.
Percebo um certo orgulho nos homens em geral e na comunidade de TI em específico em não fazer exercícios. É como eu disse antes, a barriga parece significado de ocupação, de sucesso. Não é. Hoje consigo conciliar as demandas da vida com as atividades físicas. Percebi que uma hora não mata o meu dia, onde perco muito mais tempo com coisas muito mais inúteis, como o trânsito.
Não estou sozinho neste pensamento. O Ramon Durães toda hora posta uma foto no seu twitter das corridas que faz na praia, lá na Bahia. O Uncle Bob twita seus percursos de bicicleta. O Akita também recentemente retomou seus exercícios. Porque não se juntar a nós? Levante-se da cadeira, não é só de estudo que é feita a vida. Sua namorada e seu coração agradecem.
Giovanni Bassi
Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.