É muito comum ver em outras áreas, mas nossa área também é inundada de jargões diversos. Quando acontece fora da nossa área de trabalho fica obviamente ridículo. Mas será que percebemos o quão ridículo soamos quando nós mesmos usamos jargões na área de TI?
O que frases como essas realmente querem dizer?
“Preciso de um software robusto e mais aderente às necessidades dos business experts.”
“Você precisa focar no valor e atender às expectativas do cliente.”
“AFAIK, se ele utilizar SOA isso resolve. IMHO.”
“Utilizando Cloud e BPM iremos alavancar nossos KPIs e otimizar nossos resultados.”
“A configuração agora destaca uma nova tendência na expansão dos recursos de TI.”
“Se trabalharmos de forma mais green conseguiremos mais sinergia por uso de uma solução de nuvem híbrida.”
“Buscando uma solução social e com uso de virtualização alcançaremos mais no espaço intermediário. De forma sustentável.”
“Uma arquitetura mais escalável vai permitir uma interação mais seamless com power users.”
“Precisamos alinhar as expectativas com o cliente a nível de resiliência da solução.”
O que falta nesse tipo de frase são duas coisas. A primeira é conteúdo. Essas frases não carregam quase nenhuma informação relevante que possa ser usada. O que exatamente significa um “software robusto”? E será que dizer em uma frase solta que alguém precisa “focar no valor” faz alguma diferença? (Alguém buscaria focar na falta de valor?) E SOA? Apesar de designar um conceito, é amplo demais para ser largado em uma frase com pouquíssimo contexto, e poderia ser substituído por conceitos mais específicos.
A segunda coisa que falta é sentido. Frases como as citadas são carregadas de jargão. Jargão é, segundo o dicionário:
“Linguagem corrompida, viciada, que expressa conhecimento precário ou imperfeito de uma língua.”
Ou ainda:
“Qualquer linguagem que não se consegue compreender”
O uso de jargão de fato deixa a frase mais difícil de ser compreendida. No entanto, muitas vezes o objetivo é justamente esse: não ser compreendido.
E porque alguém diria algo com o expresso objetivo de não ser compreendido? Há vários motivos. O mais óbvio é para passar por um grande conhecedor de um tema, que o interlocutor “não conhece” (porque não entendeu). Ou para demonstrar algum tipo de profundidade em alguma área. Ou para buscar demonstrar uma fala mais elegante. Ou para encaixar em um ambiente onde todos falam assim. De qualquer forma, demonstra o oposto: insegurança ou desconhecimento do assunto que a pessoa está se propondo a abordar.
Outras vezes esse tipo de linguagem pode ser usada, conforme também diz o dicionário:
(…) justamente para não ser entendida por quem não pertence a esse grupo…
E a hilária comparação:
… como ocorre, p.ex., entre alguns meliantes.
(Lembrem-se, são palavras do dicionário, só estou reproduzindo)
O uso do jargão muitas vezes confere poder a quem fala, pelos motivos já expostos. Mas este poder é entregue por pessoas que, em vez de questionar exatamente onde está o sentido da frase, fingem que a entendem, reforçando o comportamento de quem falou. Assim, sempre que você ouvir um jargão e perceber que a frase não fez sentido nenhum, questione: “O que exatamente você quer dizer com isso?” E aproveitem para notar o desconcerto do seu interlocutor.
E vocês, que frases de efeito tem ouvido? Alavanquem o blog e coloquem aí nos comentários.
Giovanni Bassi
Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.