A linguagem neutra é um conjunto de ações inclusivas e de políticas afirmativas que direcionam a escrita e o tratamento de pessoas que revogam a binaridade (masculino e feminino) nas flexões de gênero, dando visibilidade a outras opções de vocabulários mais inclusivos.

A linguagem neutra é acessível e não é capacitista, mas, claro, não podemos esquecer de perguntar, com todo o respeito do mundo, com quais pronomes a pessoa a qual você está se direcionando gostaria de ser tratada.

Mas o que afinal é considerada linguagem neutra?

Muitos conteúdos ainda fazem uso do “x” ou do “@”, mas essas formas já são consideradas inadequadas e não acessíveis por dificultarem a fala e leitura. Em contra partida, as vogais “e”,  “i” ou “u” no lugar do “o” e “a” vem sendo cada vez mais utilizadas. Por exemplo, a alternativa de flexão de gênero que termina com Emenine, bonite, amigue – como também os pronomes Elu/Delu ou Ile/Dile.

Pensando na utilização desta possibilidade de linguagem em interfaces digitais, leitores de tela já compreendem essas alternativas, ao passo que não conseguem interpretar o “x” e o “@”, impedindo que pessoas com necessidades de acessibilidade tenham acesso à informação ou ao produto em questão. Além disso, também podemos utilizar uma linguagem mais inclusiva com palavras que já existem no português formal e evitam flexões de gênero, ou construindo as frases de forma que o sujeito da frase não fique evidente, obtendo o mesmo resultado.

Adaptação em interface de linguagem neutra, Creditas.

Adaptação em interface de linguagem neutra, Gympass.

Como as empresas podem fazer uso da linguagem neutra em suas comunicações?

Observamos hoje um maior movimento das empresas para tornarem suas comunicações mais inclusivas, com algumas iniciativas e cartilhas sobre formas de neutralizar cargos e anúncios, como “pessoa desenvolvedora” ao invés de “desenvolvedor”, por exemplo.

Boas práticas de escrita de texto de produtos e interfaces digitais podem ser uma excelente forma de adaptação para uma linguagem mais inclusiva, como:

  • De “Seja um desenvolvedor em nossa empresa” para “Faça parte da nossa equipe de desenvolvedores” ou “Seja uma pessoa desenvolvedora em nosso time”.
  • De “Saiba como ser um bom investidor” para “Saiba como investir melhor”.
  • De “Indeciso sobre que carro escolher?” para “Qual modelo de carro você quer escolher?”

Conclusão

É um exercício constante de boas práticas, pensando nas pessoas e desenvolvendo produtos e interfaces digitais para pessoas. Ao apoiar a utilização de linguagem e pronomes neutros, tanto na escrita quanto no tratamento com as pessoas, incluímos grupos sociais inviabilizados, como pessoas não-binaries e intersexo, além de tornar o vocabulário do dia a dia mais fluído e humanizado, considerando o respeito à individualidade.

Obviamente que as áreas de tecnologia, assim como toda a sociedade, precisam se posicionar pela diversidade e inclusão que vão muito além de passar a utilizar termos e pronomes mais adequados nos anúncios de vagas e na escrita de conteúdo para produtos e interfaces digitais.

É preciso haver interesse genuíno de romper com velhas estruturas excludentes e aprender sobre a vivência de diversos tipos de pessoas, inclusive aquelas que utilizam linguagem neutra, respeitando sua existência e participação na sociedade. E no lugar de quem constrói e cria interfaces, produtos, textos, sempre considerar as pessoas como possíveis profissionais e/ou como usuários dos seus produtos.

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Louize Bueno

Alegretense não-binarie e pansexual, amo nerdices, cultura pop, música e cinema. Sou artista visual de formação e hoje atuo como pessoa designer de produto na Lambda3. Me faz feliz o trabalho colaborativo, desenvolvimento tecnológico sustentável e acessível para as pessoas usuárias.